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sábado, 30 de julho de 2011

doce portugal - doçaria conventual

o prazer de comer é, desde há muitos séculos, na nossa cultura, um prazer convivial: um prazer que se gosta de usufruir em comum. pode-se comer só e beber só quando se é a isso constrangido para satisfação da necessidade de matar a fome e matar a sede, mas a procura da voluptuosidade do paladar em solitário é um vício que a moral condena. as sociedades utilizam os prazeres da vida para estabelecer ou fortalecer os laços sociais e na maior parte das sociedades a refeição partilhada é um instrumento de sociabilidade. a refeição deverá ser uma celebração, uma festa onde o prazer se divide entre as pessoas. prazer de matar a fome, alegria por tomar contacto com um prato e honrar uma receita necessariamente sacralizada, e de ver os outros comungar com a mesma exaltação. foi com exaltação e muito prazer que reparti mesa e mantel com todos os meus convidados presentes nesta recolha. amizades, afinidades e simpatias proporcionaram-me refeições de memória e é dessa memória que aqui dou conta.- alfredo saramago -

bolo de claras

ingredientes:
10 claras
250 g de açúcar
250 g de pão ralado
125 g de margarina
1 cálice de vinho do porto
raspas de 1 laranja

preparando:
bata as claras em castelo e, quando estiverem meio levantadas, adicione, aos poucos, o açúcar, batendo sempre, até ficarem bem firmes. misture, com muito cuidado, o pão ralado e a raspa da laranja, o vinho do porto e, por fim, a margarina derretida, mas fria.
unte uma forma com margarina, deite-lhe dentro o preparado, alise e leve ao forno bem quente durante cerca de 30 minutos. quando estiver cozido, retire. deixe arrefecer e desenforme. pode rechear com ovos moles.
tempo disponível, criatividade, ocupação, ... são alguns dos principais ingredientes para a elaboração de excelentes receitas culinárias.
em conventos e mosteiros, freis e freiras precisavam ocupar, tempo e mente. uma das melhores formas de cumprir tal preceito era exercer a culinária, criação de receitas. portanto, a maioria das iguarias que adornam nossas mesas têm origem naqueles ambientes de agitação mental silenciosa.
os habitantes daqueles redutos dispunham de tempo, eram criativos e precisavam se ocupar. o que há de mais eficiente, para inventar receitas deliciosas???
são bento, fundou os mosteiros beneditinos, sob a condição de que os abades deveriam trabalhar para ocupar mente e corpo.
dados os devidos exageros, uma mente desocupada é o jardim do diabo.
ora et labora!!! exclamou bento. ou seja, oração e trabalho.
para facilitar o cumprimento desta regrinha fundamental, oposta ao fa niente, bento determinou que os mosteiros mantivessem, horta, oficina com recursos que atendessem às necessidades dos habitantes do povoado, queijaria, pomar, padaria, ... e se fez o pão.
a regra beneditina foi redigida pelo próprio fundador. antes dele não havia obediência, organização, atribuições, disciplina, ou seja, a vida no claustro era uma desordem, um antro devoluto. bento fez a regra e pôs ordem na vida dos mosteiros e, consequentemente, na vida dos abades.
ele cria, em seu mosteiro, uma verdadeira escola a serviço de d'us. a ordem, a congregação, sob tais denominações, surgiu tempos depois ... depois dele.
a regra de bento foi difundida nos mosteiros que a adotaram, ainda que independentes. a regra de são bento é seguida por muitas instituições de vida religiosa.

assim se fez.
em são paulo, o mosteiro de são bento possui 2 padarias. uma ao lado do prédio, no centro da cidade, outra nos jardins.
atenção!!! ambas comercializam duas delícias cediças produzidas artesanalmente pelos monges: mel e geléia de damasco.

loja do mosteiro de são bento
largo são bento
aos domingos logo após a missa das 10h00
segunda a sexta-feira das 7h00 às 18h00
sábados das 7h30 às 12h00.
(11) 3328-8799

loja nos jardins
rua barão de capanema, 416
com serviço de entrega
(11) 3063 - 0522.

loja virtual das delícias de são bento

senta, que vem mais história.
alfredo saramago, morto em 2008 - aqui, em entrevista a marcelo copello - formou-se em história e antropologia e especializou-se em história da alimentação tornando-se o mais importante escritor de literatura gastronômica.
tenho aprendido com ele, seus livros, a riqueza gastronômica de portugal, onde tudo começou.
a culinária portuguesa é rica e é referência no mundo ocidental. o reino português valeu-se dos religiosos portugueses, mulheres e homens, como importantes elementos de sua formação. um fator importante nessa aliança foi, justamente, a culinária, fundamental na independência cultural do povo português. lucraram todos, algures, alhures, nenhures ...

entre os séculos XIV e XVIII, reinado de dom afonso, o bravo, a doçaria conventual portuguesa triunfou.
o exagero atribuído à quantidade de açúcar e gemas de ovos nas receitas de doces portugueses, dizem, pode ser explicado assim: as claras de ovos eram utilizadas na confecção das hóstias, sobravam as gemas; as claras dos ovos eram utilizadas para engomar os hábitos das freiras, sobravam as gemas; naqueles tempos a colagem ou clarificação dos vinhos era conseguida através da adição da clara, sobravam as gemas. outras receitas, como aquela no início deste texto, que usavam as claras, também contribuiam para o farto sobejar de gemas. portanto, a profusão de gemas somada ao advento do açúcar - antes disso, o adoçante usual era o mel - freis e freiras não mantinham um minuto de seu tempo ocioso confeccionando delícias doces, macias, recheadas de amendoas e frutas secas.
abastadas esquisitices movimentavam uma considerável fortuna no meio religioso, por causa de caprichos vindos da corte portuguesa, e legavam aos conventos e mosteiros, despensas fartamente abarrotadas dos ingredientes necessários para a produção de delícias enlouquecedoras.
diz a lenda que d. maria francisca isabel, filha de leopoldina e pedro II, pagou a bagatela de 1.200.000 réis, para que fossem rezadas 12.000 missas após sua morte.
não é para esquecer que ingressavam para a vida religiosa, rapazes e moças, mantidos reclusos e às expensas de suas abastadas famílias.

são inúmeras as receitas inúmeras, diversas e sem limites. o mesmo doce pode ter nomes diferentes, dependendo da região, dependendo do concelho, assim como doces diferentes carregam o mesmo nome, e por aí vamos nós.

a doçaria conventual de arouca, bom saber, é valorosa para o concelho.

concelho: s.m. port. circunscrição administrativa que é uma das subdivisões de um distrito; município. os mais de 300 municípios portugueses, são chamados de concelhos.

as freiras do convento deixaram uma riqueza inestimável em receitas que seguem sendo transmitidas de geração após geração nas famílias que detêm o segredo do artesanato de iguarias tão saborosas. rosca, pão de ló, pães, manjar de língua, barriga de freira I, barriga de freira II, pudins, castanha doce, ... são algumas das requintadas delícias monásticas herdadas das monjas bernardas do convento de santa mafalda, cuja continuidade é preservada, a qualquer custo, pelas famílias, mesmo que, às vezes, enfrentem dificuldades na obtenção dos ingredientes.

oportunamente, e pra estar mais perto de casa, resta-me dizer que, em vargem grande paulista - bem ali!!! na altura do km 46 da minha rua, a rodovia raposo tavares - as freirinhas do movimento dos focolares mantêm uma loja tentadora, reduto de delícias incontestáveis.

localize-se, aqui

para não cometer injustiça sugiro que dêem uma passada d'olhos nos produtos da espiga - aqui - e programem um passeio gastronômico de consequências inimagináveis.

bolo de claras - fonte: sobresites.com